Paraíso Selvagem

Um dos aspectos mais tediosos para os leitores da narrativa contemporânea é a incapacidade de certos ficcionistas em construir tramas convincentes e de largo interesse dramático, a exemplo dos grandes mestres do gênero. Em Paraíso selvagem, o terceir o e surpreendente romance de Maria da Graça Rodrigues, ninguém correrá este risco. Li-o em uma única assentada, acompanhando com crescente interesse as descrições sintéticas da paisagem do Mato Grosso do Sul e de sua vida rural nos umbrais da selva, o trepidante ( e cheio de reviravoltas) fluxo das ações, a multiplicidade de personagens consistentes e persuasivos, e sobremodo o dilacerado e ambíguo destino da protagonista - esplêndida criação ficcional - a jovem veterinária Mariana Buarque. T am bém a exemplo dos mestres, a autora consegue entrelaçar dialeticamente a vida dos indivíduos à vida social, e os conflitos em que aqueles mergulham não são resultantes apenas de suas subjetividades cindidas, mas das circunstâncias objetivas da rea lid ade brasileira, desde a migração dos gaúchos rumo ao Centro-Oeste à presença do nascimento de uma consciência ecológica no país, passando por ONGs forjadas e pelo extermínio de índios, sem contar outros motivos candentes de nossa modernidade inco nclu sa, como o aborto e o novo papel da mulher no âmbito privado e no contexto público. Tudo isso aparece em Paraíso selvagem, influenciando o comportamento e a alma dos personagens e conferindo ao texto uma singular dimensão realista. Romance de n ossa época, romance de conquista de uma região ainda à margem da homogeneização capitalista, romance de aventuras e de costumes, a nova obra de Maria da Graça Rodrigues é, acima de tudo, um belo romance sobre o amor e suas incontáveis perversões.