Aposta, A: Contos

Os contos de A aposta são, a um tempo só, frutos de um acerto de contas e de um reencontro. Mas, ao invés de imaginar imediatamente um acerto de contas planejado, o leitor talvez devesse pensar em uma situação mais ou menos inevitável, desenrolada at ravés de histórias contadas por meio do reencontro de um autor com sua linguagem natural, sua história de vida e também a geografia para a qual espichou o olhar, deu os primeiros passos e começou a conhecer o mundo. Sob o pano de fundo do pampa gaúc h o e das cidades do interior do Rio Grande do Sul é que acontecem as histórias narradas neste primeiro livro de contos do autor bageense. Embora se possa pensar em histórias passadistas, lembranças nostálgicas ou evocativas, as narrativas de Lucio C ar valho são diretas, quase pictóricas, e não buscam a glorificação de um modo de vida, senão o desvelo de como a vida nesse ambiente acontece no tempo presente. Ainda que o tipo humano do gaúcho esteja presente na maioria dos contos, é visível que e le não se encontra entronizado, mas em franco movimento. Às vezes deixando o campo, às vezes o reencontrando e muitas vezes diante da solidão de uma vida que se faz por silêncios, esperas, reencontros, partidas, retomadas e decisões. Os contos reali zam- se com uma linguagem natural, livre de muitas interferências narrativas. Erico Verissimo disse que não escrevia para escritores e Lucio, de forma espontânea, faz algo semelhante. A linguagem íntima das histórias, como de quem conta para ser comp reend ido, faz-se ouvir pela identificação imediata dos elementos de uma vida que se renova e acontece no tempo presente e que qualquer pessoa pode muito bem reconhecer ou vir a entender. Se a sua ideia era dar vida aos personagens e tipos humanos da regiã o, não o fez porque desejasse idealizá-los, mas por favorecer o seu reconhecimento histórico, a sua vida real, dificuldades e felicidades. Então temos que, do seu acerto de contas, é que se torna possível realizar esse reencontro. Isso graças ao dina